domingo, 19 de junho de 2011

Viagem a Portugal e Espanha



Este mês viajei a Portugal e Espanha. Reuni com importantes personalidades desses países e, entre todos, havia um forte consenso: " o nome desta crise é Europa".
Encontrei Portugal ainda sob o impacto das últimas eleiçōes. A população, em geral, não estava satisfeita com o pacote de medidas para enfrentar a crise que foi anunciado pelo Governo de Sócrates (PS). Sabem que a política de ajustes também é apoiada por Passos Coelho (PSD), mas, pelo que percebi, não perdoam Sócrates por ele não ter apresentado alternativas. Para os socialistas porém, o resultado das eleições desafia a lógica, como traduz Martin Schulz: "Durão Barroso forçou Sócrates a cair pelas medidas que Barroso pediu e vai agora implementar". O líder socialista se refere ao programa de austeridade que a Troika, Comissão Européia, BC europeu e FMI, está impondo à Portugal e outros países em crise na Europa.
O que ouvi em Portugal e Espanha indica que a crise é de grandes proporçōes e abrange as dimensōes política, econômica e social. Considero que a situação decorre das escolhas políticas que a Europa fez, principalmente a partir do final da década de 90. Primeiro pela  opção do trabalhismo inglês em constituir-se "terceira via".  O "novo trabalhismo" inglês influenciou os socialistas europeus que abriram mão do confronto aberto com as políticas neoliberais já hegemônicas em toda a Europa, lideradas por Thacher na Inglaterra e Kohl na Alemanha. Por isso, a vitória dos trabalhistas na Inglaterra em 1997 e as sucessivas vitórias socialistas e social-democratas que aconteceram na região, não significaram a retomada do estado de bem estar social e do programa histórico dos partidos socialistas.
A proposta da terceira via marginalizou os sindicatos e as correntes socialistas do partido trabalhista inglês, que passou a defender a economia de mercado, a flexibilozação do trabalho, a desregulamentaçōes e a economia globalizada. Essas diretrizes, sem dúvida, influenciaram a Agenda de Lisboa e o plano de desenvolvimento europeu aprovado pelo Conselho da Comunidade em março de 2000.
A opção por uma suposta "modernidade", focada em competitividade e na cópia do modelo americano foram fontes de inspiração para a Agenda que pretendia, antes de 2010, "transformar a União Européia na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capacitando-a um crescimento econômico duradouro em que haveria uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e maior coesão social".
Em 2004, foram fixadas as prioirdades para fortalecer a Agenda de Lisboa por José Monoel Duråo Barroso, presidente da Comissão Européia: 1) melhorar o investimento em redes e em conhecimento, 2) reforçar a competitividade da indústria e dos serviços e 3) promover o prolongamento da vida ativa. Confirma-se o foco na "competitividade, inovação e qualificação".
No Brasil, mais ou menos no mesmo período que essas idėias ganhavam força na Europa, o Partido dos Trabalhadores venceu as eleições com o candidato Luiz Inácio Lula da SIlva. O programa vitorioso propunha o social como eixo, a democratização do Estado e das relaçōes sociais como princípio e uma orientação externa que permitisse a presença soberana do país no mundo como condição necessária para o seu desenvolvimento.
O resultado desses dois projetos distintos pode ser conferido em 2010 com o balanço de resultados da agenda européia do crescimento via competitividade e aqueles apresentados pela agenda brasileira do crescimento via inclusão social.


Um comentário:

  1. Esther adoro seu blog, e tenho muita coisa em comum com suas opiniões. Mas você demora muito para atualizar seu blog....

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